FRASES MARCANTES

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."

(Rui Barbosa).

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A fundação de Salvador - Parte II

A presença da Igreja na formação dos limites da cidade de Salvador

Além das características de defesa, portuárias e de produção agrícola, a cidade define-se também pela presença marcante da Igreja Católica, inicialmente, com a Companhia de Jesus e seus missionários que aqui se estabeleceram para fins de catequese. A eles se deve a primeira ermida construída - a de Nossa Senhora da Conceição - na área da praia, a instituição do primeiro bispado do Brasil, em 1551, com a sua Sé.       
Jesuítas e Franciscanos estruturaram-se dentro dos limites reservados à cidade, após a primeira expansão, enquanto os Beneditinos e os Carmelitas, ainda fora das portas da cidade, posicionaram-se de forma estratégica onde se previa o crescimento da cidade, demarcando o seu território e, ao mesmo tempo, reforçando os vetores de expansão no sentido norte / sul (UFBA, FAUFBA-CEAB, 1998, p.58-59). É perceptível o poder de definição da Igreja Católica cuja influência recaia na estrutura das cidades colonizadas, nesta época. 
Se os espaços livres no entorno de edificações religiosas cumpriam a função de atendimento a ritos religiosos, para muito além desta necessidade, traziam também o objetivo de permitir o enquadramento e a valorização do conjunto, demonstrando a força e o prestígio da entidade e dos seus dirigentes. A construção da Sé (demolida em 1913), que substitui a igreja de palha inicial (localizada nas imediações da atual Igreja da Ajuda), surge ainda em finais do século XVI, entre as duas grandes praças do primeiro núcleo, em posição privilegiada e área fronteiriça à escarpa, de frente para a baia. É a Igreja do Salvador – a Sé Episcopal. Situada em pequeno terreno livre e sem vegetação que contorna toda a igreja, “[...] está em redondo cercada de terreiro [...], faltam torres de sinos [...] alta e sóbria que por sua vez articula-se por rua larga com uso de comércio”. No lugar da anterior capela de palha constrói-se a Igreja de N. S. d’Ajuda, “com capela em abóbada”, conservando “aquele” seu espaço fronteiriço (Soares, apud UFBA, 1998, p.53).

Expansão de Salvador em 1553.
Percebe-se claramente a interferência dos jesuítas no traçado do “terreiro”. Espaço monumental e geometri-camente bem definido, ganha o nome de Terreiro de Jesus por abrigar o colégio e a igreja da ordem. Espaço nascido para o exercício do sagrado e da formação cultural, começa a ser edificado a partir da segunda metade do século XVI e constitui o segundo largo da cidade e local da primeira escola oficial brasileira. Seu entorno contém também edificações residenciais e, na seqüência, a ordem dos franciscanos demarca o espaço com o seu cruzeiro, símbolo da ordem (Cruzeiro de São Francisco). Nesses elementos que formam um conjunto religioso.


Expansão de Salvador em 1580.                                                                   A expansão da cidade para o Norte e Sul.       

A cidade extrapola os muros e em 30 anos após a criação do núcleo urbano primordial edificado por mestre Luis Dias já estava expandindo para o norte em direção a porta do Carmo localizada nas imediações do largo do Pelourinho e subindo para o Convento do Carmo. Conforme relato sobre a cidade do Salvador em 1584 diz que a cidade foi "murada e torreada no tempo do governador Tomé de Souza e depois os muros vieram ao chão, por serem de taipa, e não se repararem nunca.... por ser a cidade ir estendendo muito por fora dos muros, e agora não há memória onde eles estiveram”.  Ao Sul a cidade cresce ultrapassando os limites da garganta entre da porta de São Bento e a Barroquinha. O mosteiro de São Bento já é uma referência dos caminhos que a cidade começa a tomar. O caminho do Conselho o que hoje corresponde a Avenida Sete de Setembro, liga a Vila Velha a antiga povoação do Pereira e passava por varias aldeias de índios. Na Praia que hoje corresponde ao bairro do Comércio na cidade baixa, era a área de preferência comercial ligado ao ramo de importação e exportação e também era zona de construção naval, com vários estaleiros e presença de trabalhadores do setor naval.

A planta urbana é de 1630. Observe a limitação do núcleo primitivo da cidade ainda demarcado pelas muralhas.

Em 1600, já havia uma praça central, na área administrativa circundada pelos edifícios do governo, da prisão, da alfândega e onde se localizava o pelourinho (uma coluna de pedra com grandes argolas de bronze, na qual eram açoitados escravos). As igrejas completavam o cenário. O material usado na construção dos prédios, como pedras de liós e azulejos, era importado de Portugal por imposição da Coroa. Até as casas seguiam o modelo português: estreitas, tinham frente rente à calçada, janelas com treliças, típicas da arquitetura lusitana, e jardins nos fundos.

Os grupos étnicos

Três grupos étnicos fizeram parte do povoamento inicial de Salvador: o índio, o branco e o negro. Os habitantes primitivos do Recôncavo Baiano eram índios tupinambás e tupiniquins, tribos pertencentes ao grupo tupi. As relações cordiais entre colonos e índios deterioraram a partir de 1530 – quando as lavouras de cana-de-açúcar se expandiram e os portugueses tentaram, sem sucesso, escravizar os índios – em conflitos violentos, que resultaram no extermínio dos nativos. Atualmente na área do município de Salvador não possuí nenhum núcleo de população indígena.  A seguir está o relato de Gabriel Soares de Sousa, senhor de engenho e cronista na Bahia do século XVI, descreve suas impressões sobre o modo de vida dos Tupinambás, uma das tribos que habitavam a região do Recôncavo Baiano: 
“Têm os Tupinambás grande conhecimento da terra por onde andam, pondo o rosto no sol, por onde se governam; com o que atinam grandes caminhos pelo deserto, por onde nunca andaram (...). Costuma este gentio, quando anda pelo mato sem saber novas do lugar povoado, deitar-se no chão, e cheirar o ar, para ver se lhe cheira a fogo, o qual conhecem pelo faro a mais de meia légua,(...) e por os Tupinambás terem este conhecimento da terra e do fogo, se faz muita conta deles, quando se oferece irem os Portugueses à guerra a qualquer parte, onde os Tupinambás vão sempre diante, correndo a terra por serem de recado, e mostrando a mais gente o caminho por onde hão de caminhar, e o lugar onde se hão de aposentar cada noite (...)"..


Ao perceberem que os índios eram arredios ao trabalho forçado, os colonos passaram a explorar a mão-de-obra dos negros, capturados no litoral oeste da África. Os principais grupos afros que seguiram para a Bahia vieram do Sudão, da Nigéria, de Daomé e da Costa do Marfim. No fim do século XVIII, cerca de 60% da população de Salvador era de raça negra. Hoje, Salvador ainda mantém essa mesma proporção de negros ou descendentes.


Salvador sitiada – A ocupação Holandesa
Em primeiro lugar é necessário esclarecer que o termo holandês não existia em 1624. O país Holanda não existia. Antes a área que atualmente corresponde a Holanda, era conhecida como os Países-Baixos, ocupada por cidades-estados, cidades comerciais que são auto-suficientes na sua estrutura, entre elas: Amsterdã, Roterdã, Leiden. Podemos afirmar que a Holanda de hoje foi formada a partir das chamadas empresas de sociedade anônimas, ai sim, encontramos alguma relação com as invasões no Brasil e mais precisamente na Bahia. 
As principais companhias da época eram a Companhia das Índias Ocidentais e a Companhia das Índias Orientais. Em verdade não é o Estado holandês que vai invadir a Bahia e sim uma empresa privada a Companhia das Índias Ocidentais, que tinha entre seus funcionários um príncipe de nome Maurício de Nassau. Por que a Bahia é escolhida para ser o ponto de tomada de uma empresa de capitais ou sociedade anônima que se instala na Holanda?
Por uma razão muito simples, o açúcar era o grande negócio e o ponto estratégico da rota da Índia era outro grande negócio e ambos aportavam na cidade do Salvador. A Companhia das Índias Ocidentais transfere-se do interesse puramente mercantil para o interesse também militar. Isto é, tomar a cidade que significava a continuação do esquema de comercio privado, do esquema particular das negociações, da carreira da Índia e da produção interna de açúcar. A Companhia das Índias Ocidentais passa a ser uma empresa militar para a conquista da Bahia. A grande motivação desta invasão foi como decorrência da união das coroas de Portugal e Espanha (a Espanha proibiu o Brasil de ter relações comerciais com a Holanda),então em decidem 1623 assaltar a Bahia.
 Em maio de 1624 chegava a Salvador a esquadra comandada por Jacob Willekens, tendo sob suas ordens 26 navios e 500 bocas de fogo; os invasores ocuparam facilmente a cidade, nela permanecendo por um ano, até serem rechaçados pela armada luso-espanhola, comandada por D. Fradique de Toledo Osório.
Inconformados com a perda da metrópole, a ela retornaram os holandeses em 1638, quando já fortemente estabelecidos em Pernambuco, tomado em 1630. Dessa feita, o ataque foi comandado por Maurício de Nassau, que, havendo iniciado o assédio em 16 de abril, retirou-se, batido, em 29 de maio. Comandou a defesa o conde de Bagnuolo. Vê-se que a presença holandesa na Bahia foi mais curta e este mito de que os holandeses construíram dique e fortificação não passa de invencionice popular. O tempo em que aqui estiveram estava tomado por  preocupação na defesa de sua posição frente a reação dos habitantes de Salvador, não havia espaço para realizar construções.  
Fonte: (Transcrição adaptada da palestra de Cid Teixeira efetuada no Crea-Ba)

A fundação de Salvador - Parte I

A ocupação do território da “cabeça do Brasil”.

Quando foi nomeado governador geral,Tomé de Sousa que, de acordo com o regimento de Almerim, documento que representa a certidão de nascimento de Salvador, continha instruções precisas para edificar uma fortaleza e povoação grande e forte num lugar conveniente, a intenção do rei de Portugal era dotar as novas terras de uma presença mais efetiva de representantes da coroa portuguesa. Portanto quando Tomé de Sousa desembarcou na região da Barra, atualmente nas imediações entre o Forte de São Diogo e o Iate Clube, já encontrou ali um núcleo de habitantes, uma pequena vila chamada de Vila Velha ou Vila do Pereira, assim chamada em virtude do nome do antigo donatário da capitania da Bahia Francisco Pereira Coutinho.


As origens da Vila.  
  
O Francisco Pereira era conhecido pela alcunha de “rusticão”, devido a sua rudeza no tratamento principalmente com os “gentios da terra”, ou seja, os índios. Quando aqui chegou em 1536 trouxe consigo parentes, amigos e colonos e “construiu casas para 100 moradores” e sua moradia estima-se que estava localizada no outeiro (alto)  nas imediações da Igreja da Vitória com vista de frente a enseada do Iate Clube. Aqui já habitava um velho morador da Bahia de Todos os Santos, Diogo Álvares, o Caramuru. Pouco se conhece sobre Diogo Álvares, contudo estudos indicam que entre 1510 e 1511 chegou a Bahia em virtude de um naufrágio. Caramuru foi importante peça nas negociações da tensa convivência entre portugueses e índios, tanto que obteve o lote de terra (sesmaria) que ia da região do atual bairro da Graça até o bairro do Rio Vermelho. Casou-se com Paraguaçu, a filha do cacique, que mais tarde foi batizada na França com o nome de Catharina Paraguaçu. Converteu-se ao catolicismo e ergueu uma pequena ermida que mais tarde transformou-se na Igreja da Graça (no bairro da Graça) , local onde esta sepultada. Apesar da interferência de Caramuru para apaziguar os ânimos entre colonos e índios um fato vai mudar drasticamente a vida da capitania da Bahia. Em 1545 algumas tribos dos índios da Bahia de Todos os Santos atacaram a vila do Pereira e ao mesmo tempo os colonos rebelam-se contra o donatário e desejavam prendê-lo. Mas ele retira-se para a capitania de Pero de Tourinho em busca de ajuda, onde permaneceria até em 1546 quando Caramuru foi buscá-lo trazendo a notícia de que os franceses haviam incendiado a vila do Pereira e confiscaram a artilharia de defesa. Pereira Coutinho resolveu regressar, mas quando estava nas imediações da Ilha de Itaparica sua embarcação afundou nos recifes e os Tupinambás de Itaparica que eram antropófagos o prendem e o devoram em seguida. Com a morte do donatário o rei D. João III prefere reverter a capitania para a Coroa e foi esta circunstância que fez da Bahia a primeira capitania da Coroa e propiciou a condição de sede do governo-geral do Brasil criado em 1548.


Gravura indicando os limites da Vila do Pereira, local onde situava-se a moradia no donatário Francisco Pereira Coutinho, o rusticão. Atualmente corresponde a área do Farol da Barra ao Forte de São Diogo.










A chegada de Tomé de Souza.

Quando desembarcou no Porto da Barra em 29 de março de 1549, Tomé de Souza foi bem recebido pelos colonos, índios e por Diogo Caramuru. O então governador geral do Brasil trazia consigo um documento com instruções claras sobre a sua empreitada. O Regimento de Almerim, podemos dizer que foi a certidão de nascimento  de Salvador, determinava, no seu primeiro item, o que vem demonstrar a importância da questão, que o primeiro governador fizesse "uma fortaleza e povoação grande e forte" em um lugar conveniente destinada a ser a Cabeça do Brasil para dali "dar favor e ajuda às outras povoações". Este seria o primeiro espaço físico e urbano de total controle do Estado, chefiado por um funcionário e administrador do Estado português na colônia.
Espaço metropolitano que deveria dar "favor e ajuda às outras povoações e se ministrar justiça e prover nas coisas que competirem a meu serviço e aos negócios de minha fazenda e a bem das partes".
Sem perder tempo, partiram em busca do local adequado para construção da sede administrativa. Tomando o caminho em direção ao atual corredor da Vitória, e margeando o litoral chegaram ao local que se achou mais adequado para iniciar a fortificação, nenhum ponto é mais apropriado para o assentamento da cidade, que o trecho no alto promontório entre as gargantas da Barroquinha e do Taboão,acidentes topográficos propícios para construção de obras de defesa, compreendido entre a atual Praça Castro Alves e a Misericórdia. Erguida no alto de uma escarpa, entre a Baía de Todos os Santos e os morros, Salvador foi a primeira cidade planejada do Brasil. O mestre das obras Luiz Dias foi o “arquiteto” que traçou as linhas limítrofes e o plano urbano primitivo (obedecendo as “traças e amostras” recebidas em Lisboa) do “arruamento” daquela que foi denominada cidade do Salvador. Os colonizadores tomaram o cuidado de construí-la nos moldes das cidades de sua terra natal e mantiveram nela a aparência medieval de Lisboa, com ruas estreitas, curvas e dispostas perpendicularmente umas às outras. Outra herança lisboeta são seus fortes, que fazem de Salvador uma típica cidade-fortaleza. Abrigando cerca de 1000 habitantes em 1549, a primeira capital do Brasil cresceu em dois planos, a cidade alta e a cidade baixa. O movimentado porto e um pequeno comércio local ocupavam a estreita e extensa faixa litorânea (era o que mais tarde denominou-se bairro da Praia, atual Bairro do Comércio) ligada à cidade alta por ladeiras e barrancos (em 1920 foi construído o Elevador Lacerda). Os edifícios oficiais (a casa do governador-geral e a sede do governo foram os primeiros a serem erguidos) e as residências localizavam-se no alto da escarpa, a parte nobre da cidade. Mas foi na cidade baixa, nas imediações onde hoje situa-se o elevador Lacerda e a Igreja da Conceição da Praia, que era conhecida como Ribeira do Goes ou das Naus, que foram construídos os depósitos e barracões para o armazenamento do  material de construção utilizado para erguer a cidade. Neste mesmo local, na praia, que foi erguida a primeira ermida, consagrada a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do governador.
Núcleo urbano primitivo da cidade do Salvador - 1551

As ligações entre as partes alta e baixa da cidade, fundamentais para os trabalhos de construção e, de comunicação de pessoas e coisas, foram, no princípio duas, a saber: Primeira- o caminho que veio a ser conhecido como Ladeira da Conceição, que tinha inicio no alto, na praça do Palácio, atualmente Praça Municipal, estando a construção terminada no final de 1549. No entanto este caminho por ser considerado de alta declividade mostrou-se inconveniente para o transporte do material de construção, motivo pelo qual levou a imediata construção do Segundo, que partindo da Porta de Santa Luzia – atual praça Castro Alves – seguia pelas imediações das Ladeira da Gameleira e da Preguiça e terminava na Ribeira dos Pescadores – defronte as Fonte da Pedreiras, atualmente nas imediações do Trapiche Adelaide. 


Modificações no território de Salvador. Uma cidade fortaleza ou a fortaleza que tornou-se cidade? 
                                                                                 

Poucos registros restaram dos muros da fortificação erguida por Luis Dias em 1549, tanto que em 1580 já não se podia ver os muros da antiga fortificação. O projeto de defesa de Salvador constituía em conjunto de muros e fossos, articulado por caminhos irregulares, praça administrativa, espaço para igreja e dois alargamentos encerrados na porta Sul - Porta de Santa Luzia – (era o fosso situado entre o atual Palácio dos Esportes e a escada da Barroquinha) e na porta Norte ( Porta de Santa Catarina), assim a cidade no primeiro período se apresenta como espaço que abriga as edificações vinculadas às decisões máximas da província, mas também como abrigo de atividades sociais, como articuladora entre edifícios religiosos e lugar onde aconteciam atividades comerciais que exploram os caminhos de conexão geral 
(REIS,FILHO, 1968; UFBA, FAUFBA-CEAB, 1998, p.144-145). A cidade fortificada protegia-se externamente de outras potências da Europa pelos fortes localizados na entrada da Baía de Todos os Santos: Santo Antônio da Barra (1583) e Mont Serrat (1583/87). Estas construções constituiriam uma nova paisagem no “sítio natural” que, até então, somente sofria intervenções provenientes de tentativas de domínio e explorações incipientes e externas, ou das culturas pré-existentes (UFBA, FAUFBA-CEAB, 1998, p.66; OLIVEIRA, 2004, p.182 187). A arquitetura militar define a paisagem de Salvador desde os seus fortes, suas portas de defesa, seus baluartes, suas muralhas e quartéis, entre outros tipos. Posicionados estrategicamente, os seus largos para treino, organização e manobra das tropas e equipamentos de artilharia, em muito contribuíram para a definição do tecido urbano, como se verá mais à frente.

domingo, 2 de dezembro de 2012

A POESIA BOCAGIANA DE MOYSÉS SESYOM

Bebo, fumo, jogo e danço
Sou perdido por mulher.

Vida longa eu não alcanço
Na orgia ou no prazer
Mas enquanto eu não morrer
Bebo, fumo, jogo e danço!

Brinco, farreio, não canso
Me censure quem quiser...
Enquanto vida eu tiver
Cumprindo essa sina venho
E além dos vícios que tenho
Sou perdido por mulher.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

DIGA NÃO AS DROGAS



Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de "experimenta, depois, quando você quiser, é só parar..." e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", "natural" , da terra", que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco do "Chitãozinho e Xororó" e em seguida um do "Leandro e Leonardo". Achei legal, coisa bem brasileira; mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "Amigo" e acabei comprando pela primeira vez.

Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano. Era o princípio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... "Banda Eva", "Cheiro de Amor", "Netinho", etc. Com o tempo, meu amigo foi oferecendo coisas piores: "É o Tchan", "Companhia do Pagode", "Asa de Águia" e muito mais. Após o uso contínuo eu já não queria mais saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer a bunda como eu nunca havia mexido antes, então, meu "amigo" me deu o que eu queria, um Cd do "Harmonia do Samba". Minha bunda passou a ser o centro da minha vida, minha razão de existir. Eu pensava por ela, respirava por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais . . . Comecei a freqüentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show de encontro dos grupos "Karametade" e "Só pra Contrariar", e até comprei a Caras que tinha o "Rodriguinho" na capa.

Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro, meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra: entrei para um grupo de Pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma "música" que não dizia nada, eu e mais 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorriamos fazíamos sinais combinados. Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a coletânea "As Melhores do Molejão". Foi terrível!! Eu já não pensava mais!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas "miseráveis" e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, no limiar da condição humana, quando comecei a escutar "Popozudas", "Bondes", "Tigrões", "Motinhas" e "Tapinhas". Comecei a ter delírios, a dizer coisas sem sentido. Quando saia a noite para as festas pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas; uns nobres queriam me mostrar o "caminho das pedras", outros extremistas preferiam o "caminho dos templos". Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: a droga limpa.

Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro: doses cavalares de Rock, MPB, Progressivo e Blues. Mas o meu médico falou que é possível que tenham que recorrer ao Jazz e até mesmo a Mozart e Bach. Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam sua visão para as coisas boas e te oferecem drogas.

Se você não reagir, vai acabar drogado: alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável e distante; vai perder as referências e definhar mentalmente.

Em vez de encher cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:

* Não ligue a TV no domingo à tarde;
* Não escute nada qu e venha de Goiânia ou do interior de São Paulo;
* Não entre em carros com adesivos "Fui.....";
* Se te oferecerem um CD, procure saber se o indivíduo foi ao programa da Hebe ou ao Sábado do Gugu;
* Mulheres gritando histericamente são outro indício;
* Não compre um CD que tenha mais de 6 pessoas na capa;
* Não vá a shows em que os suspeitos façam passos ensaiados;
* Não compre nenhum CD em que a capa tenha nuvens ao fundo;
* Não compre nenhum CD que tenha vendido mais de um milhão de cópias no
Brasil; e
* Não escute nada em que o autor não consiga uma concordância verbal mínima.

Mas principalmente, duvide de tudo e de todos.
A vida é bela!!!! Eu sei que você consegue!!! Diga não às drogas!!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morre Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores do século 20

 Morre Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores do século 20

Um dos mais influentes historiadores do século 20, o britânico Eric Hobsbawm morreu nesta segunda-feira em Londres aos 95 anos, confirmaram familiares.
Em entrevista à imprensa, a filha de Hobsbawn, Julia, disse que seu pai morreu no início da manhã no Royal Free Hospital, onde ele se tratava de uma pneumonia.
'Sua ausência será imensamente sentida não só por sua esposa de mais de 50 anos, Marlene, por seus três filhos, sete netos e bisnetos, mas também por muitos leitores e estudantes ao redor do mundo', informou um comunicado da família.
A reputação do historiador deve-se, principalmente, a quatro obras escritas por ele, entre elas 'Era dos Extremos: o Breve Século 20: 1914 - 1991', livro que foi traduzido em 40 línguas.
De família judia, Hobsbawm nasceu na cidade de Alexandria, no Egito, em 1917, o mesmo ano da Revolução Russa, que representou a derrocada do czarismo e o início do comunismo no país.
Não por coincidência, a vida do historiador e seus trabalhos foram moldados dentro de um compromisso duradouro com o socialismo radical.
O pai de Hobsbawm, o britânico Leopold Percy, e sua mãe, a austríaca Nelly Grün, mudaram-se para Viena, na Áustria, quando o historiador tinha dois anos e, logo depois, para Berlim, na Alemanha.
Hobsbawm aderiu ao Partido Comunista aos 14 anos, após a morte precoce de seus pais. Na ocasião, ele foi morar com seu tio.
Em 1933, com o início da ascensão de Hitler na Alemanha, ele e seu tio mudaram-se para Londres, na Inglaterra. Após obter um PhD da Universidade de Cambridge, tornou-se professor no Birkbeck College em 1947 e, um ano depois, publicou o primeiro de seus mais de 30 livros.
Hobsbawm foi casado duas vezes e teve três filhos, Julia, Andy e Joshua.
Na década de 80, Hobsbawm comentou sobre sua fuga da Alemanha. 'Qualquer um que viu a ascensão de Hitler em primeira mão não poderia ter sido ajudado, mas moldado por isso, politicamente. Esse garoto ainda está aqui dentro em algum lugar - e sempre estará'.
Obra
Entre as obras mais conhecidas de Hobsbawm, estão os três volumes sobre a história do século 19 e 'Era dos Extremos', que cobriu oito décadas da Segunda Guerra Mundial ao colapso da União Soviética.
Já como presidente do Birkbeck College, ele publicou seu último livro, 'Como mudar o mundo - Marx e o marxismo 1840-2011', no ano passado.
O historiador afirmou que ele tinha vivido 'no século mais extraordinário e terrível da história humana'.
Marxista inveterado, ele reconheceu a derrocada do comunismo no século 20, mas afirmou não ter desistido de seus ideais esquerdistas.
Em abril deste ano, Hobsbawm disse ao colega historiador Simon Schama que ele gostaria de ser lembrado como 'alguém que não apenas manteve a bandeira tremulando, mas quem mostrou que ao balançá-la pode alcançar alguma coisa, ao menos por meio de bons livros'.
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terça-feira, 17 de julho de 2012

No ensino superior, 38% dos alunos não sabem ler e escrever plenamente

Entre os estudantes do ensino superior, 38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa. O indicador reflete o expressivo crescimento de universidades de baixa qualidade.
Criado em 2001, o Inaf é realizado por meio de entrevista e teste cognitivo aplicado em uma amostra nacional de 2 mil pessoas entre 15 e 64 anos. Elas respondem a 38 perguntas relacionadas ao cotidiano, como, por exemplo, sobre o itinerário de um ônibus ou o cálculo do desconto de um produto.
O indicador classifica os avaliados em quatro níveis diferentes de alfabetização: plena, básica, rudimentar e analfabetismo (mais informações nesta pág.). Aqueles que não atingem o nível pleno são considerados analfabetos funcionais, ou seja, são capazes de ler e escrever, mas não conseguem interpretar e associar informações.
Segundo a diretora executiva do IPM, Ana Lúcia Lima, os dados da pesquisa reforçam a necessidade de investimentos na qualidade do ensino, pois o aumento da escolarização não foi suficiente para assegurar aos alunos o domínio de habilidades básicas de leitura e escrita.
"A primeira preocupação foi com a quantidade, com a inclusão de mais alunos nas escolas", diz Ana Lúcia. "Porém, o relatório mostra que já passou da hora de se investir em qualidade."
Segundo dados do IBGE e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), cerca de 30 milhões de estudantes ingressaram nos ensinos médio e superior entre 2000 e 2009. Para a diretora do IPM, o aumento foi bom, pois possibilitou a difusão da educação em vários estratos da sociedade. No entanto, a qualidade do ensino caiu por conta do crescimento acelerado.
"Algumas universidades só pegam a nata e as outras se adaptaram ao público menos qualificado por uma questão de sobrevivência", comenta. "Se houvesse demanda por conteúdos mais sofisticados, elas se adaptariam da mesma forma."
Para a coordenadora-geral da Ação Educativa, Vera Masagão, o indicativo reflete a "popularização" do ensino superior sem qualidade. "No mundo ideal, qualquer pessoa com uma boa 8.ª série deveria ser capaz de ler e entender um texto ou fazer problemas com porcentagem, mas no Brasil ainda estamos longe disso."
Segundo Vera, o número de analfabetos só vai diminuir quando houver programas que estimulem a educação como trampolim para uma maior geração de renda e crescimento profissional. "Existem muitos empregos em que o adulto passa a maior parte da vida sem ler nem escrever, e isso prejudica a procura pela alfabetização", afirma.
Jovens e adultos. Entre as pessoas de 50 a 64 anos, o índice de analfabetismo funcional é ainda maior, atingindo 52%. De acordo com o cientista social Bruno Santa Clara Novelli, consultor da organização Alfabetização Solidária (AlfaSol), isso ocorre porque, quando essas pessoas estavam em idade escolar, a oferta de ensino era ainda menor.
"Essa faixa etária não esteve na escola e, depois, a oportunidade e o estímulo para voltar e completar escolaridade não ocorreram na amplitude necessária", diz o especialista.
Ele observa que a solução para esse grupo, que seria a Educação de Jovens e Adultos (EJA), ainda tem uma oferta baixa no País. Ele cita que, levando em conta os 60 milhões de brasileiros que deixaram de completar o ensino fundamental de acordo com dados do Censo 2010, a oferta de vagas em EJA não chega a 5% da necessidade nacional.
"A EJA tem papel fundamental. É uma modalidade de ensino que precisa ser garantida na medida em que os indicadores revelam essa necessidade", diz Novelli. Ele destaca que o investimento deve ser não só na ampliação das vagas, mas no estímulo para que esse público volte a estudar. Segundo ele, atualmente só as pessoas "que querem muito e têm muita força de vontade" acabam retornando para a escola.
Ele cita como conquista da EJA nos últimos dez anos o fato de ela ter passado a ser reconhecida e financiada pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). "Considerar que a EJA está contemplada no fundo que compõe o orçamento para a educação é uma grande conquista."

Fonte: Estadão

terça-feira, 3 de julho de 2012

Você tem experiência?

No processo de seleção da Volkswagen do Brasil, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta:

"Você tem experiência"? A redação abaixo foi desenvolvida por um dos
candidatos. Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele
com certeza será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima
de tudo por sua alma.

**REDAÇÃO VENCEDORA**

Já fiz cosquinha na minha irmã pra ela parar de chorar, já me queimei
brincando com vela.

Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista.

Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora.

Já passei trote por telefone.

Já tomei banho de chuva e acabei me viciando.

Já roubei beijo. Já confundi Sentimentos.

Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus.

Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de esquecer.

Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda.

Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante.

Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só.

Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uisque até sentir dormentes os meus lábios.

Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.

Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas
renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.

Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar.

Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim.

Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade.

Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol,

Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração.

E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "Qual sua experiência?".

Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência...experiência...Será que ser
"plantador de sorrisos" é uma boa experiência?

Sonhos!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!

Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:

Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?".